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O impacto de um bom tênis nas articulações: Como evitar dores e lesões

Um passo em falso nem sempre é literal. Às vezes, ele começa com a escolha errada de calçado. Para quem pratica atividades físicas ou mesmo para quem caminha bastante no dia a dia, as articulações do corpo recebem impacto constante, e a saúde dessas estruturas depende de muitos fatores — entre eles, a escolha do tênis certo. O que parece um simples detalhe pode, na verdade, ser um dos grandes responsáveis por dores articulares, lesões recorrentes e até problemas de postura.

A relação entre o calçado e as articulações é mais profunda do que se imagina. Não se trata apenas de conforto imediato, mas de prevenção a longo prazo. Um tênis bem escolhido tem o potencial de proteger regiões como tornozelos, joelhos, quadris e coluna vertebral, evitando sobrecargas, desalinhamentos e desgastes precoces. E quando o calçado não corresponde às necessidades do corpo, o risco de dores e lesões articulares aumenta significativamente.

Este artigo é um convite à reflexão: será que o tênis que você usa realmente está cuidando da sua saúde articular?

Como as articulações respondem ao movimento e ao impacto

Articulações são pontos de encontro entre dois ossos e permitem os movimentos do corpo humano. Elas estão presentes em diversas regiões — tornozelos, joelhos, quadris e coluna são algumas das mais exigidas durante atividades como caminhada, corrida e treino de força.

Ao se movimentar, especialmente em superfícies duras ou de maneira repetitiva, essas articulações absorvem o impacto gerado pelo peso corporal e pela força do movimento. Em pessoas com sobrepeso, desalinhamentos posturais ou fraqueza muscular, essa carga tende a ser ainda mais intensa. O tênis adequado funciona como um amortecedor, ajudando a distribuir essa força de maneira mais uniforme, reduzindo a pressão sobre cada articulação.

Quando essa distribuição é ineficiente — como ocorre com calçados inadequados — o corpo tenta compensar de forma desajustada. E aí surgem as dores, o desgaste precoce da cartilagem e, eventualmente, as lesões mais sérias, como artrose ou inflamações crônicas.

A biomecânica do movimento e o papel do calçado

Cada pessoa tem uma forma específica de pisar, caminhar e correr. Essa combinação de fatores é conhecida como biomecânica do movimento. Ela inclui a posição dos pés, a distribuição do peso corporal, o alinhamento dos joelhos e até o posicionamento da pelve e da coluna.

Uma parte essencial dessa biomecânica é o tipo de pisada:

  • Pronada: quando o pé gira excessivamente para dentro;
  • Supinada: quando o pé gira para fora;
  • Neutra: quando o movimento é equilibrado.

Quando o tênis respeita essa biomecânica — ou seja, está ajustado ao tipo de pisada, à anatomia do pé e à atividade praticada — ele contribui para uma movimentação mais fluida, segura e eficiente. Um bom modelo oferece:

  • Amortecimento que reduz o impacto direto nas articulações;
  • Estabilidade que evita torções ou movimentos excessivos;
  • Suporte adequado ao arco plantar e ao tipo de pisada;
  • Distribuição de pressão mais equilibrada entre calcanhar, meio do pé e ponta dos dedos.

Imagine, por exemplo, um corredor com pisada pronada utilizando um tênis neutro. Esse desequilíbrio pode forçar o joelho a “compensar” o movimento, criando um estresse articular desnecessário. A médio prazo, isso se traduz em dores, inflamações e lesões.

Estudos biomecânicos já demonstraram que calçados mal ajustados aumentam significativamente a incidência de dor articular e de lesões por sobrecarga — especialmente entre corredores iniciantes.

Dores e lesões articulares provocadas por tênis inadequados

É comum associar tênis inadequados apenas ao desconforto passageiro ou a bolhas nos pés. No entanto, os efeitos podem ir muito além da superfície. Um calçado que não respeita a biomecânica e não absorve impactos de maneira eficiente pode ser a origem silenciosa de diversas lesões articulares. Entre as mais comuns estão:

Joelhos

Os joelhos são extremamente vulneráveis ao impacto repetitivo. Quando o calçado não oferece bom amortecimento ou favorece um mau alinhamento dos pés, os joelhos acabam compensando esse desequilíbrio. Isso pode levar à:

  • Síndrome patelofemoral, caracterizada por dor na parte frontal do joelho;
  • Condromalácia patelar, um desgaste da cartilagem sob a patela;
  • Artrose precoce, pela sobrecarga crônica na articulação.

Quadris

Embora menos lembrados, os quadris também sofrem com calçados inadequados. Um desalinhamento no caminhar pode afetar o encaixe da articulação do quadril, gerando dor e inflamações, como:

  • Bursite trocantérica, inflamação das bolsas sinoviais laterais do quadril;
  • Desgaste articular ou mesmo início de artrose.

Tornozelos

Tênis com solado instável, sem suporte lateral ou mal ajustados ao pé favorecem torções e instabilidades, que resultam em:

  • Entorses recorrentes;
  • Dor crônica nas articulações do tornozelo;
  • Artrose por repetição de lesões mal cicatrizadas.

Coluna vertebral

A coluna, embora pareça distante dos pés, é composta por vértebras articuladas que também sofrem com desequilíbrios posturais. Um tênis inadequado pode alterar o alinhamento da lombar e da cervical, gerando:

  • Dores lombares frequentes;
  • Compressões entre as vértebras;
  • Desgaste articular intervertebral, principalmente em pessoas que já possuem escoliose, hiperlordose ou hérnia de disco.

Impactos em diferentes fases da vida

A escolha do tênis também deve considerar as fases da vida. Em crianças, calçados inadequados podem afetar o desenvolvimento articular e postural, levando a problemas que se manifestam na vida adulta. Já em idosos, o risco de quedas e lesões articulares aumenta com tênis que não oferecem boa estabilidade ou tração. Modelos com amortecimento eficaz e sola antiderrapante são essenciais para proteger as articulações envelhecidas e prevenir fraturas.

Como identificar um tênis que realmente protege suas articulações

A escolha de um tênis vai muito além da estética. Para preservar suas articulações, é fundamental observar os seguintes aspectos:

Amortecimento

Um bom tênis deve ter uma entressola (camada intermediária entre o solado e a palmilha que absorve o impacto) com espuma de qualidade ou tecnologias específicas para absorção. Isso reduz a carga que seria absorvida por joelhos, quadris e coluna.

Estabilidade

Modelos com base mais larga e solado firme oferecem mais estabilidade. Isso evita movimentos exagerados do tornozelo e melhora o alinhamento corporal.

Suporte ao tipo de pisada

Tênis para pisada pronada, supinada ou neutra são desenvolvidos para corrigir ou acomodar a maneira como cada pessoa pisa. Usar o modelo errado pode causar desequilíbrios e dores articulares.

Drop e flexibilidade

O drop (diferença de altura entre o calcanhar e a parte frontal do tênis) influencia na postura e na distribuição do impacto. Um drop muito alto pode sobrecarregar quadris e lombar, enquanto um drop muito baixo exige mais dos músculos posteriores. Já a flexibilidade deve estar localizada na região dos dedos, facilitando a propulsão.

Ajuste ao pé

O tênis precisa se ajustar bem ao formato do pé, sem apertar nem sobrar espaço demais. Um ajuste inadequado favorece compensações e impacta diretamente nas articulações superiores.

Fatores externos: o tipo de solo importa

O impacto do solo nas articulações não deve ser subestimado. Correr em asfalto, por exemplo, exige tênis com mais amortecimento, enquanto pisos como terra batida ou grama são naturalmente mais suaves. Escolher um tênis de acordo com o ambiente em que a atividade será realizada é fundamental para preservar as articulações. Isso vale também para treinos indoor, onde o tipo de piso da academia influencia a escolha do calçado ideal.

Tecnologias avançadas: placa de carbono é para todos?

Tênis com placa de carbono têm ganhado destaque pela performance, mas nem sempre são os mais indicados para iniciantes ou para quem busca proteção articular. Embora proporcionem impulso, muitas vezes sacrificam amortecimento ou estabilidade. Avaliar se essas tecnologias realmente beneficiam seu tipo de pisada e objetivo é essencial. Nem sempre o modelo mais tecnológico será o mais saudável para suas articulações.

Cuidados extras que fazem diferença

Além da escolha do modelo ideal, outros cuidados ajudam a preservar as articulações:

Evite usar tênis velhos ou deformados:

A capacidade de amortecimento e suporte se perde com o tempo. Mesmo tênis confortáveis podem deixar de proteger suas articulações após cerca de 500 a 800 km de uso.

Tenha modelos diferentes para cada atividade

Caminhada, corrida e musculação exigem características específicas.

Considere usar palmilhas ortopédicas

Em casos de desalinhamentos ou pés com anatomias específicas, uma palmilha sob medida pode ajudar a redistribuir cargas e proteger articulações.

Faça uma avaliação da pisada

Se possível, consulte um fisioterapeuta ou loja especializada para identificar sua pisada e biomecânica.

Respeite os sinais do corpo

Dor persistente ou desconforto ao caminhar ou correr merecem atenção. O corpo sempre dá sinais — cabe a nós escutar.

Um passo mais consciente pode mudar tudo

Escolher um tênis adequado não é apenas uma questão de conforto, é uma decisão que influencia diretamente a saúde articular ao longo da vida. A cada passo, o corpo absorve impactos e distribui cargas que, quando mal gerenciadas, se transformam em dores e limitações.

Veja o caso de Lucas, que começou a correr com um tênis genérico, sem entender a importância do suporte. Após dois meses, dores nos joelhos e na lombar tornaram-se frequentes. Ao buscar orientação, descobriu que usava um modelo totalmente inadequado para sua pisada pronada. Trocou o calçado e, em poucas semanas, sentiu alívio. Hoje, corre com prazer — e sem dor. Mais do que isso, Lucas redescobriu a alegria de se movimentar. Voltar a correr o fez perceber o quanto o corpo responde quando é respeitado. Ele se tornou um defensor da escolha consciente do tênis entre os amigos iniciantes e costuma dizer: “Um bom tênis não é só conforto. É liberdade para viver sem medo da dor.”

Sua história é o reflexo de algo simples, mas poderoso: quando cuidamos bem dos nossos pés, estamos cuidando de tudo que vem acima deles.

Proteger suas articulações é um investimento contínuo, e ele começa de baixo para cima — literalmente. Um calçado escolhido com critério é capaz de preservar joelhos, quadris, tornozelos e coluna de desgastes desnecessários, mantendo você em movimento com mais segurança e longe de lesões.

Da próxima vez que for comprar um tênis, pense além do visual ou da marca. Pense nas articulações que você quer preservar, nas dores que deseja evitar e na liberdade de se movimentar com leveza. Às vezes, o melhor caminho para seguir em frente começa com um bom par de tênis.

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